quarta-feira, 7 de março de 2012

Ontem e hoje não estão a ser fáceis

6 de Março de 2012, 23h 

Hoje sinto-me um belo pedaço de merda.
Estou num fim de mundo onde não tenho com quem contar ou falar, onde se fala outra língua e ninguém imagina o que eu estou a viver.
Quero voltar para casa, quero ir-me embora, voltar para onde pertenço.
Mas não sei que lugar é esse. Não quero voltar para a Madeira, está lá só o meu pai e a minha irmã…não é lá a minha vida. A minha vida é em Lisboa, onde agora está a minha mãe sozinha numa casa que não é a minha e eu não quero voltar a morar com a minha mãe.

A ultima vez que me tinha ligado fora há quatro dias, na sexta. Ligou-me agora. No sábado mandou-me uma mensagem a perguntar se estava a gostar de Pescara – à qual eu só fui por uma festa, à noite, disse-lhe isso (que só à noite ia lá) e ela disse-me que me divertisse – no domingo mandei-lhe eu mensagem a perguntar se já tinha falado com o meu pai à qual ela me respondeu que sim; ontem nada me disse. Hoje dei-lhe toques para me ligar de volta uma vez que eu não tenho mais dinheiro e ela tinha ficado com o meu número italiano para me ligar ela por isso mesmo. Deu-me um toque de volta, não me ligou, mandou-me uma mensagem a perguntar o que é que se passava “nada, era para me ligar. Se quiser” respondi. Nada. Ate há pouco, quando me ligou. Disse que eu é que nunca mais lhe tinha dito nada…tive a contar-lhe o que tenho feito todos estes dias a tentar desenvencilhar-me, arranjar as coisas que preciso cá, sabe-se lá como… disse-me que me falava quando eu não tivesse mal disposta e desligou-me o telefone. Recebi agora uma mensagem “Não tenho culpa dos teus problemas. Já tenho os meus para me preocupar e ainda ter que levar com o teu mau humor. Já levei anos demais a ouvir do teu pai agora não vou continuar a ouvir de ti. Não achas que em vez de te irritar comigo devias pensar um pouco como estou” ao que eu respondi “Já pensou por algum momento em como é que eu possa estar?”, resposta: “De certeza que não estas pior do que eu!! Sabes o que é sentir que não sou nada nem tenho ninguém. Pensa um pouco… Ah e não precisas responder para não gastar o teu saldo podes precisar”. A minha vontade era dizer-lhe que sei melhor do que algum dia ela possa imaginar. “Sei bem melhor do que algum dia lhe possa passar pela cabeça. Obrigada pela preocupação e interesse em mim. Eu sempre estive e estarei do seu lado porque a amo.” Tenho pena que não tenha reparado nisso ainda. Se há coisa que tenho tentado fazer é estar do seu lado. Não acho justa esta atitude. As vezes gostava que se lembrasse que eu não sou assim tão crescida, que a filha aqui sou eu e não tenho sempre de ser tão forte. Gostava de poder ser eu a estar a ser apoiada, a sentir que há alguém ali sempre para mim, sem quatro pedras na mão, que me dissesse que não faz mal chorar, que não faz mal ter medo ou querer desistir de tudo. Que o que nos torna melhores e mais fortes é que, apesar disso, não desistamos, não deixemos de lutar. Se pudesse faria com que não tivesse de passar por tudo isto. Mas não sou eu, também, que tenho culpa do que se passa ou passou consigo.

“E eu não tenho estado do teu lado? Mas não te sinto preocupada comigo. Desculpa dizer o que sinto mas já estou farta de esconder de todos para não magoar ninguém e não pensar em mim.” Disse-me. Respondi: “também não a sinto minimamente preocupada comigo desde há algum tempo já. Tenho pena que ache isso pois se há coisa que já há meses tenho estado é preocupada consigo.”
Tem piada que há uns dias/semanas me dizia “Está bem, não te preocupes comigo que eu desenrasco-me” e agora diz-me isto, não compreendo, não dá para entender. Pelo menos não na minha cabeça. Se há coisa que tenho feito estes últimos tempos é tentado estar presente, ajudar nalguma coisa mesmo tão longe. Só Deus sabe como me sinto mal por não estar ao seu lado num momento tão difícil…! E como ate quase me arrependi ou culpei de ter vindo de ERASMUS. Tenho tentado estar informada, que me conte como correm as coisas, como se sente, como está tudo por lá. Mas estes últimos dias recusei-me a continuar a ser eu a insistir para que me ligasse, contasse, falasse e esperei que fosse ela a procurar saber de mim ou procurar-me para falar comigo. Não aconteceu, como descrevi. Eu sou orgulhosa e não pretendo voltar a ligar, perguntar, insistir, querer saber se não sinto feedback. Sei perfeitamente que é uma fase difícil, provavelmente a mais difícil da sua vida, mas não sou eu que tenho culpa, não é estando a agir assim comigo que será melhor ou mais suportável. E não é também não me falando, não se interessando por nada que me diga respeito mesmo tendo mil e uma coisas com que se preocupar. Porra, sou sua filha, continuo, também eu, a ser sua filha ou por um acaso isso escapou-lhe?!

“Ah eu não me preocupo contigo! Está bem! É isso que achas! Ok, se calhar deve haver alguém que se preocupa mais do que eu! Ou se calhar não tenho sido a mãe que tu querias… por me preocupar com vocês deixei de me preocupar comigo e só fiz algo quando vocês pudessem safar-se sem sofrerem tanto.” Que eu saiba, também ela é sua filha, só eu é que não lhe pareço preocupar-me consigo, logo eu! Com a minha irmã fala e comigo? Qual é a diferença? É ela estar em casa e eu noutro país estranho, longe de todos vocês? Não é por isso que o estou a viver menos. Não é por estar longe que me dói menos ou que é mais fácil ou que não me magoa ou preocupa ou o que seja. “Eu não acho NADA disso. Eu é que não me preocupo consigo? Olhe à sua volta e veja se é isso que lhe parece. Eu tenho tentado tudo para ajudar e estar presente” disse. E agora basta…para mim basta por hoje.

Juro que não sei o que é que esperava que eu fizesse. O que é que seria para si mostrar que eu me preocupo (tanto)? Não sei mais o que posso eu fazer para não achar que está só e que não me preocupo consigo. Não consigo mesmo compreender…


Hoje fez muito frio, eu pelo menos tive imenso frio. E choveu. Já ontem era nublado mas não vi chuva, hoje sim. O dia esteve novamente escuro e cinzento, choveu e fez frio.

2 comentários:

  1. Olá minha querida =)

    Pensando na tua mãe ... há nestas ocasiões várias formas de encarar como a vida se desenrola! Quando uma pessoa decide "renascer" da situação em que estava, por vezes torna-se egoista, arriscando-me mesmo a dizer demasiado egoista. Mas penso que na maioria dos casos as pessoas acabam por voltar a "si", talvez não tão rápido ou talvez não sem antes magoarem quem delas gosta e se interessa. A unica coisa que te consigo dizer, na situação que a tua mae está a passar, é que se calhar ela realmente pode achar que devias estar ali ao pé dela, por parvo, e egoista que isso possa ser, mas se calhar ela pena isso. Ou se calhar, ela pode não te querer massacrar com tudo o que está a passar para não te deixar ficar pior. A distinção entre as duas coisas tens de ser tu a fazê-la, pois tu é que a conheces bem!

    "As vezes gostava que se lembrasse que eu não sou assim tão crescida, que a filha aqui sou eu e não tenho sempre de ser tão forte. " E tens toda a razão em sentires-te assim, também tu, minha querida, precisas de alguém com quem possas partilhar tudo, uma pessoa que te oiça e que te apoie!


    No entretanto nós, que lemos o teu blog, sempre te vamos dar umas palavrinhas! De certo, e com toda a certeza, não são as mesmas que uma melhor amiga/o pode dar, visto não nos conhecermos, de certo não são s mesmas, nem têm o mesmo sentimento, caso fosse a tua mãe a ser o teu apoio. Claro que não. Uma coisa não substitui a outra. Mas não são inseparáveis! Estamos cá nós para te dizer que és apoiada, estamos cá nós para te fazer sentir que o blog é teu e nós leitoras estamos aqui para ti, sem nenhuma pedra na mão, sem pedir nada em troca. Podes chorar à vontade porque isso só liberta o que tens aí dentro. Só te faz bem chorar e deitar cá para fora o que te faz mal. E não faz mal absolutamente nenhum ter medo. É algo natural, e estrranho seria se não tivesses medo, estando aí sozinha. Até o pensamento de desistir de tudo nós aceitamos. Mas esse é para lutar! Não se desiste, minha querida, tomamos decisões e vivemos com elas, com os seus resultados, bons ou não. E lutamos pelo que achamos ser melhor para nós. "O que não nos mata, torna-nos mais fortes". Estar aí só te faz bem, acredita nisso! E tem força para lutar, sabes que consegues!! =)


    E agora pergunto, numa forma de amenizar a coisa, já tens net?
    Tenta distrair-te agora que vais ter um fim de semana mais calmo e "sozinho" ...

    Olha, ficou enorme ... talvez devesse ter escrito um mail ... desculpa!

    De qualquer das formas, sabes que se quiseres podes mandar um mail aqui à sintonia =)

    Um beijinho **

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  2. Muito obrigada Sintonia.
    Sei que me consigo exprimir porque tu me percebeste pela maneira como escreves e pelo que dizes aqui, isso deixa-me feliz.
    Não tenho como demonstrar o quanto isso me deixa feliz.

    Obrigada pelo apoio, não tenho palavras.
    Grande beijo!

    ResponderEliminar

Obrigada pelas tuas palavras!

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