segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Mãe


Entristece-me, não consigo evitar, por mais que já devesse estar habituada à realidade, aperceber-me de que há pessoas que, devendo ser as mais próximas de nós, optaram por nos obrigar a criar um abismo entre nós. A minha mãe pensa essencialmente nela e no seu bem-estar. Não quero com isto dizer que ela não mostra alguma preocupação, não tenho intenção de desconsiderar todas as circunstâncias actuais e as coisas pelas quais já passou que condicionam a sua posição neste momento. Não sou ninguém para julgar mas há claras incongruências com o papel mais comum de mãe. 
Desde que se separou do meu pai, parece ter-se separado também das filhas e eu não consigo entender como é que isto pode fazer-se - ela é mãe, eu não sou nem sei do que falo mas o peso da palavra já me faz acreditar que é tão mais do que aquilo/isto/o que afinal é. O meu pai é quem é responsável por nós e quem se preocupa se precisamos de alguma coisa ou não, se realmente está tudo bem, que se interessa afinal - também à sua maneira, claro, mas não é isso que está em causa (não é como o faz é o fazê-lo). Da parte da minha mãe não sinto isso nem nada semelhante.
E sim, não sou hipócrita e também falo, é claro, de ajuda material e económica, afinal, ambas somos dependentes ainda e sem meios autónomos de subsistência mas isso é completamente ignorado por ela - não é por não o saber mas por não lhe importar. E não demonstra intenções ou pretensões de fazê-lo. Quando o assunto é evolução ou progressão no trabalho e na vida, em planos para o futuro, em objectivos, tudo gira somente à volta de uma pessoa - ela. 
Nós já não precisamos que nos levem ao colo, já somos duas mulheres, já há algum tempo independentes (tanto quanto possível) e autónomas, nunca fomos muito próximas ou dependentes deles (nossos pais) mas isso não significa que não precisemos de algum apoio ou encaminhamento, orientação em situações pontuais. Isso, neste momento, só podemos esperar de uma parte - o pai.
E se é verdade que foi durante muitos anos (anos demais) um pai distante e ausente, também é verdade que ela, estando mais presente do que ele, não o era muito mais e a proximidade que nunca existiu (nem existe) reflecte isso mesmo. E desde que saiu de casa que isso se agravou ainda mais e não há o mínimo de sensibilidade ou bom senso em pensar além dela própria, dos seus interesses, projectos e ambições.
Dei por mim a constatar que há pessoas que não foram feitas para ter família, que não está dentro delas, que terão sem dúvida outros talentos e aptidões mas que, no final de contas, dali não se pode retirar muito ao nível familiar tradicional (pai, mãe e filhos) - ou sou eu, o que também é uma hipótese, que sou demasiado conservadora e acho que o núcleo essencial e sagrado é a família (seja ela composta como for)!
E quase consigo adivinhar que toda a minha relutância e a quase certeza de que não terei filhos, é fundada nisto mesmo.
Eu já sabia disto tudo, já sei há muito tempo, porque o vivo, porque sinto dentro de mim. Mas, ainda assim, apesar disso, não consigo evitar que me entristeça de cada vez que penso no assunto. É a mãe que temos e, por isso, só temos de dar graças - porque há quem não a tenha, porque há quem nunca a tenha conhecido, porque há quem a tenha perdido, por uma imensidão de motivos. Embora isso não diminua o vazio que sentimos e muito menos o amor que lhe temos.

5 comentários:

  1. Possas, mas deve ser super complicado. E mãe é mãe... só a palavra já diz tanto. Mas pode ser que amanhã as coisas mudem, não sabemos. E espero realmente que mude.
    Beijinho grande *

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    1. Há coisas que nunca mudarão, porque estão relacionadas direta e intimamente com a essência das pessoas. É o caso e, por eu achar isso, não guardo (nem tinha como fazê-lo) qualquer rancor ou mágoa, muito menos julgo, porque não tenho esse direito. Apenas não posso fingir que não me afecte, porque claro que me moldou e molda o ser.

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  2. Eu acho que são as adversidades que nos ajudam a melhorar e a ser mais fortes, mas falo de barriga cheia. Sempre tive o apoio incondicional da minha mãe (e às vezes basta-nos uma palavra de consolo ou incentivo), por isso, um abraço forte e não desistas, nem de ti, nem da tua família (a que tens e a que podes vir a formar).

    Beijinho

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    1. Mas sem dúvida, ambas concordamos. As adversidades, no caso, o afastamento que os meus pais tiveram de nós, as suas atitudes, a postura da minha mãe, com certeza contribuiram para fazer de mim alguém mais forte, mais capaz, responsável e muitas outras coisas que agora não me lembro mas que foram benéficas para mim. Mas só isso é positivo, porque do outro lado existe uma "mãe" que não é como o que (talvez erradamente, admito) se espera que uma mãe seja, pelo menos em muita coisa não é.
      Obrigada pelas tuas palavras :)

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  3. Há pessoas que não nasceram para serem mães, infelizmente:(

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Obrigada pelas tuas palavras!

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