sexta-feira, 20 de abril de 2018

Mudar

Nem tudo é como nós queremos ou desejaríamos. Quanto à oferta de trabalho de que falei no último post, não fui seleccionada. Mas não deixa de ser curioso o exercício de reflexão que nos impomos quando somos confrontados com a remota possibilidade (como era o caso) de alguma coisa mudar totalmente a nossa realidade.


Quando sai da entrevista, depois de mais de uma hora de conversa muito interessante sobre o trabalho que a empresa desenvolve, o que pretendiam do candidato que tinham de admitir, do meu percurso e o perfil, entre outras coisas (uma conversa muito agradável), invadiu-me um sem número de questões que poderiam pôr muita coisa em causa e trazer grandes mudanças na minha vida.

Estava verdadeiramente tentada a aceitar o grande desafio que seria aquele trabalho. Afinal, apesar de ser mais longe e ganhar menos, seria na minha área de paixão e formação e seria um desafio incrível para mim. Era pôr-me à prova em vários níveis, sair completamente da minha área de conforto, assumir grandes responsabilidades e evoluir forçosamente. Ia ter de me esforçar muito para dar conta do recado e aprender a mexer-me em meios nos quais não tenho experiência e/ou à vontade.

Dormi sobre o assunto e no dia seguinte já não estava tão convencida de que seria boa ideia sair do conforto e segurança (ainda que relativos) que conquistei onde estou hoje. Ainda assim, hesitante e como forma de tentar esclarecer as minhas dúvidas (ou na esperança que isso pudesse acontecer), enchi-me de coragem e fui esclarecer uma questão do meu aumento com o meu chefe. Pensei para mim "se ele não me der o que eu percebi que me tinha oferecido mas que depois percebi, com a redução do acordo a escrito, que afinal era menos, posso encontrar aí a minha motivação para me ir embora". Questionei e ficou claro que seria o valor que inicialmente ele me tinha proposto e não menos que isso. Já não me podia ancorar neste motivo. 

Outra coisa que me atormentava quanto a aceitar o outro trabalho era o facto de ter de entrar imediatamente e eu ter de cumprir para com o meu patrão, em caso de saída, um pré-aviso de 30 dias mas que não era o que verdadeiramente me preocupava mas sim o facto de saber a quantidade de coisas que tenho em mãos e que não existe ninguém a quem pudesse, dentro da empresa, passar. Sei que precisariam de contratar alguém para me substituir e que isso implicaria nova formação extensa e demorada e que esta fase em que estamos cheios de trabalho não seria o momento mais simpático para tal. Sei que os deixaria ficar mal se saísse. Mas isso não chegava para impedir-me de mudar se assim decidisse...embora me custasse muito saber que deixaria a empresa numa situação muito desconfortável.

Começar um novo trabalho nesta fase não era também o que mais me agradava pois teria de rever todas aquelas coisas que uma mudança destas implica (deslocações, caminho, ordenados, férias, outros planos em andamento que teriam de ficar suspensos ou ser adiados ou projectos pessoais que ficariam comprometidos).

No segundo dia já tinha mudado de atitude e achava que não valia a pena tecer considerações sobre o que quer que fosse sem sequer saber se seria seleccionada. Afinal, o que me garantia que o fosse? Sabia que me dariam resposta nesse dia e portanto conformei-me que tinha de esperar e suspender a minha ansiedade e a construção de castelos no ar... A verdade é que estava muito mais inclinada para não aceitar, se fosse escolhida. Para aceitar, precisava que me garantissem algumas condições, ou seja, pretendia fazer "exigências" mínimas por isso dificilmente seria aceite.

No final do dia (indicado para a comunicação da decisão deles) não tinha sido contactada e portanto considerei que teriam escolhido outra pessoa. Embora fiquemos sempre naquela secreta esperança que tivesse havido algum atraso e que ainda nos fosse dada resposta (positiva ou negativa!). No dia seguinte recebi um email explicando que efectivamente se tinham demorado mais no processo de selecção mas que tinham escolhido outra pessoa com "considerável experiência". Agradeceram o tempo despendido, disseram que tinha sido um gosto conhecer-me e desejaram-me felicidades e sucesso profissional. Fiquei muito bem impressionada com a resposta e, confesso, algo aliviada. Portanto, nada de novo por aqui. Mantenho-me onde estou mas em constante movimento, que parar é morrer e eu não me dou por satisfeita só com o que tenho hoje, quero sempre mais e melhor. 

E vocês, já pensaram o que fariam se surgisse uma oportunidade de mudar? 

4 comentários:

  1. Boa tarde, na minha opinião, a vida profissional não é para ficar estagnada, muitas pessoas contra a sua vontade acomoda-se ao emprego para sempre, parece que são vazias de ambição, sou defensor que se deve procurar a realização profissional, mas, de uma maneira calma, a falta de ponderação no passo seguinte, pode causar um recuo significativo.
    Feliz fim de semana,
    AG

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    1. Muito obrigada pela partilha, não podia concordar mais. Isso é o que é a minha essência, sempre procurar mais e melhor mas dentro daquilo que para nós é possível e faz sentido.

      Bom fim de semana :)

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  2. É um importante exercício de reflexão. Neste momento, face ao que tenho, não sei se mudaria para algo na minha área. Imagino que teria que passar por um estágio que seria pior remunerado do que o meu atual emprego, não teria contrato de mais de 6 meses e depois poderia ficar sem nada. Não sei se valeria a pena.

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  3. Eu passei muito tempo a pensar e a viver esse medo. Estava num trabalho que não me realizava, que inconscientemente me atormentava e intimidava. Queria ser despedida para poder voar. Efetivei. Caraças pa. Houve uma antiga colega minha que quando lhe disse que tinha efetivado me disse "vais ficar aqui para sempre?" ,(com cara de desanimo) ao que eu respondi que não. 14 dias depois fui a uma entrevista, CHEIA DE MEDO, para o trabalho onde agora estou. Disse o que queria e porque queria. Aceitaram-me. Se tive medo? Quem não? Mas olha, já passou quase um ano e foi a melhor coisa que fiz. Não sei se trocaria este trabalho numa loja por um trabalho na minha área (mas também já não acredito nem procuro esse trabalho na área).

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Obrigada pelas tuas palavras!

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