Horário: das 9h às 19h, sendo que, se for necessário, deverá ficar até mais tarde.
Almoço: das 13h às 14h.
Salário: 485€
Tipo: recibos verdes.
Requisitos:
Licenciatura e Inscrição na OA (cuja inscrição e exames deve passar e
suportar os custos). Mestrado, factor preferencial.
Para chegar por volta das 9h, é necessário sair de casa pelas 8h, logo, no mínimo levantar-se às 7.30h - é enfiar qualquer coisa à pressa mas sempre formal porque esse é o dresscode do escritório, pegar nas coisas, pensar no que falta do lanche ou almoço porque ficou no frigorífico e sair a correr.
Sobe-se a rua, apanha-se o autocarro até à estação do metro, por
volta de 10min. Apanha-se o primeiro metro que chegar e leva-se metade
da viagem em pé, mesmo de saltos altos. Leva-se 25min, faz-se toda a
linha azul (quase) e quando se sai do metro, ainda vamos a pé, mais uns
10min até lá chegar. Por vezes antes das 9h, quase sempre, já lá está e
já só há previsão de sair depois das 19h. São, no mínimo, 10h por dia
enfiada naquele escritório, com o dia a passar pela janela e o rabo
enfiado na cadeira estragada, sem apoio de costas.
Além das 10h lá, perde-se mais ou menos 1.30h a ir e a vir. Depois
de sair, faz-se todo o caminho de novo, em sentido inverso e chega-se a
casa estoirado. Nunca antes das 20h30min. Quase sempre é preciso
cozinhar, porque mesmo que ainda tenhamos comida para desenrascar um
jantar a dois rápido, é preciso contar com o dia seguinte, mais
propriamente com o ALMOÇO do dia seguinte que se tem de levar para o
trabalho porque ir comer fora é completamente impensável, quer em termos
económicos, quer em termos de tempo.
Depois de jantar ainda se dá ao luxo de poder sentar no sofá,
recostados a ver a novela com os gatos (pobres bichos que passam o dia
sozinhos em casa) para tentar abstrair-se do mundo em redor, selvagem e
real lá fora. Não há capacidade para fazer mais nada. Não há! Mas quando
há trabalhos da faculdade para entregar é preciso inventar capacidade
para os fazer, obrigarem-se a ler o que têm pela frente e arranjarem
capacidade para elaborar o que quer que seja para poder defender ou
entregar aos doutores professores.
É num instante que as horas se escapam e já passa da meia noite.
Ainda temos de arrumar alguma coisa, no mínimo as coisas do jantar, e
temos o lanche por fazer e preparar para poder sobreviver ao dia
seguinte.
Lá se arrastam para a cama e dali a 6h já têm de se obrigar a sair da
cama e voltar a repetir as proezas do dia a dia de um jovem (abençoado)
licenciado no seu primeiro emprego.
E eu pergunto-me, como é que se pode ser financeiramente autónomo e independente com 485€? Mesmo sem ter filhos ou dependentes a seu cargo, uma renda na Grande Lisboa não é menos que 250/300€, as contas de água, luz e gás (sim, é impensável ter internet, TV, telefone fixo e qualquer outra mordomia porque significaria endividar-se ainda mais) rondam os 60€, mais 10€ para o telefone e 30€ para o passe já que se vai de transportes, sobram 135€. É o que fica para as extravagâncias que nos são permitidas. 135€ para comer e não deve sobrar nada. Mesmo indo a todas as promoções, aos preços mais baixos e com a alguma ajuda de amigos e familiares que sempre nos oferecem algumas coisas (graças a Deus!) que nos fazem não ter de gastar tanto dinheiro em bens alimentares.
E eu pergunto-me, como é que se pode ser financeiramente autónomo e independente com 485€? Mesmo sem ter filhos ou dependentes a seu cargo, uma renda na Grande Lisboa não é menos que 250/300€, as contas de água, luz e gás (sim, é impensável ter internet, TV, telefone fixo e qualquer outra mordomia porque significaria endividar-se ainda mais) rondam os 60€, mais 10€ para o telefone e 30€ para o passe já que se vai de transportes, sobram 135€. É o que fica para as extravagâncias que nos são permitidas. 135€ para comer e não deve sobrar nada. Mesmo indo a todas as promoções, aos preços mais baixos e com a alguma ajuda de amigos e familiares que sempre nos oferecem algumas coisas (graças a Deus!) que nos fazem não ter de gastar tanto dinheiro em bens alimentares.
E se tiver de pagar uma propina, sim porque ainda se está a acabar o
mestrado, ou tiver de comprar um livro ? Será 250€ para a propina, como
vou comprar comida, pagar o passe ou mesmo as contas?
E não há como não estar agradecido pelo emprego que conseguimos nesta selva com o drama do desemprego.
Não sou capaz de acompanhar a matéria das aulas a que tenho
faltado, não quero deixar de fazer o mestrado, até porque preciso dele e
espera-me a inscrição na OA, que pressupõe pagar e muito e ainda
frequência de aulas e, novamente, estudo. Preocupa-me a cada dia. Aquele
é o meu objectivo afinal, a minha ambição e propósito. Mais do que me
preocupar, angustia-me.
Mas é assim. Só posso estar feliz por ter o que tenho.
Acresce
que não somos trabalhadores, somos "estagiários" mesmo trabalhando
tanto ou mais que os outros, mesmo sendo tratados como seres inferiores e
pessoas menores, mesmo não sabendo e tendo de estar em permanente
pedido de ajuda a pessoas que estão quase sempre demasiado ocupadas para
nos ouvirem sequer e muito menos têm paciência para nos esclarecer ou
explicar claramente as coisas.
Não tenhas vergonha. PEDE!
ResponderEliminar... Eu tenho 44 anos e perdi a minha...ou isso...ou não conseguir cumprir compromissos assumidos...trabalhar quase há 25 anos...e chegar à conclusão que 25 anos depois...o ordenado não vai chegar para pagar as despesas...de tantas vezes que já foi cortado...
...e assim nos vamos ficando pelos desabafos...
Mesmo Suri! É tão triste a realidade em que vivemos neste país... :( só me ocorre isso: uma tristeza enorme perante isto. Isso quando não nos dá para desanimar que é impossível não acontecer !
Eliminar