quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Estranhos como antes


Houve um tempo em que eu achei, nem que tenha sido por um segundo, que uma relação poderia ser sempre tranquila, sempre de felicidade, no fundo, achei que era possível ser tudo um mar de rosas constante. Não é bem assim, acho que só se percebe isso quando se vivem as coisas na pele.
Com o meu noivo descobri que o amor é tranquilo e aprendi que existem pessoas realmente boas, de coração, que são capazes de amar sem reservas. Com ele já aprendi e conheci muita coisa nova, aceitei na minha vida coisas nas quais não acreditava e passei a saber muito mais de mim do que sabia antes.
Quando se vive junto e quando se decide partilhar a nossa vida com outra pessoa, muita coisa muda, tem de mudar, senão não faria sentido, em meu entender. A verdade é que quando nos entregamos a outra pessoa, de alma e coração (como não podia deixar de ser quando se ama), levamos também para a vida do outro algumas coisas que não são o melhor de nós, aquelas partes menos boas que todos temos, aqueles dias difíceis, aquelas manhãs complicadas e aquelas noites perdidas. Isto tudo para dizer que é mais que certo que toda a relação (seja ela familiar, de amizade ou de amor) exige muito de nós e por isso também passa por "crises", momentos mais delicados, em que questionamos muita coisa, a maioria das vezes em que nos questionamos a nós mesmos e isso só pode acarretar grandes conflitos, quanto mais não sejam internos, connosco mesmos. 
Não é fácil gerir tudo o que uma relação de entrega, amor e dedicação implica, todos os dias da nossa vida, todas as horas e todas as coisas. Não é sempre um mar de rosas. Nem faria sentido que o fosse, porque as adversidades, o superar obstáculos juntos, o reformular, o voltar atrás, repensar e melhorar torna-nos mais fortes, mais unidos e mais sábios. O decorrer dos dias traz-nos auto-conhecimento, experiência e muitas vezes mostra-nos naturalmente o que devemos fazer, o caminho a tomar, o rumo a seguir.
As "crises", os momentos mais exigentes ou desafiantes no percurso de um casal, além de fazerem parte e serem mais do que naturais, muitas vezes trazem-nos aquilo que precisamos, mesmo que naquela altura não o consigamos ver. Por ter aprendido, no meu caminho, tudo isto, eu sei que muitas vezes as relações são postas à prova mas sobretudo nós mesmos o somos. E também já percebi que o caminho faz-se percorrendo, que não deve nunca faltar o diálogo, que o respeito tem de ser sempre um pilar sedimentar e que a construção e o crescimento têm de fazer parte de todos os nossos dias numa relação que queiramos fazer durar.
Todas as vezes que passamos por uma discussão ou por um período difícil, em que pomos tudo em causa, quase sempre porque estamos assustados, cansados e desanimados com o que a vida nos dá, todas as vezes em que eu não o compreendo, que o magoo ou que ele me magoa, eu sei que tudo isso acontece porque há algo que temos de trabalhar, que nos falta limar e que precisamos de moldar. Nós temos muitos dias maus, temos discussões feias e muitas vezes magoa-mo-nos um ao outro muito mais do que o amor que sentimos deveria permitir. Somos reais, somos humanos e imperfeitos. Mas também sei que juntos somos melhores, que juntos somos mais capazes e que juntos podemos tudo, se quisermos e se para isso trabalharmos. Essa certeza sossega-me o coração e os medos. E é por isso que sempre que alguma coisa não está bem eu prefiro discuti-la e esmiuçá-la do que fingir que não se passa nada, que não me incomoda. Mesmo que isso implique nos cansarmos e discordarmos. Porque para mim, não o fazer implica de alguma forma desistir ou desinvestir em nós. E isso é que eu não quero que aconteça, porque isso significaria deitarmos fora tudo o que até hoje construímos, que é bem mais fácil e rápido do que possa parecer.

7 comentários:

  1. "Somos reais, somos humanos e imperfeitos" Está quase tudo dito:)
    Cá em casa há uma regra há 21 anos que te deixo como conselho de mãe: Nunca te deites com NADA por dizer....e há conta disso já "perdi" muitas noites, porque muitas vezes é pela noite fora que se conversa, que se chega a entendimentos...e muito mais quando (que ainda não é o vosso caso)) já há "piquenos", durante o dia não há tempo para esclarecer nada. A noite é amiga e companheira de muitas maneiras...e não há nada melhor como depois de um bom esclarecimento adormecer afundada no ombro dele e com os seus dedos a deslaçar-me os caracóis como quem deslaça os problemas um a um...pouco depois o sol nasce e a vida recomeça com um sorriso nos lábios. Jinhoooooosssss

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    1. Quase parece que nos (me!) estavas as descrever! É que eu não podia concordar mais e já passei mesmo por muitas noites dessas em que prefiro não dormir a ficar com coisas por dizer ou discutir. E acho que apesar dos dissabores que isso possa causar, o resultado final é bem mais positivo do que não falar. Afinal é isso que faz com que nos tornemos novamente dois estranhos um para o outro. Muito obrigada pelas tuas palavras :) um grande beijo

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  2. Estou a morar com o meu namorado a quase dois meses e se queres que te diga não tem sido nada fácil. As discussões tem sido mais do que muitas, os entendimentos poucos. E isto só me tem afastado. Não está a ser o que eu pensava e olha que eu nem pensava que ia ser tudo um mar de rosas...

    Fico feliz que vocês consigam ser assim e entender que nem tudo é fácil.

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    1. Se queres que seja muito sincera: é MUITO normal que o início de uma vida a dois seja complicado. Não é fácil mudarmos rotinas, hábitos e nos adaptarmos um ao outro nesse meio tempo. Não é nada fácil e a maioria das vezes acabamos a discutir pelas coisas mais insignificantes do mundo. Quantas vezes acabam por se esquecer como é que a discussão começou? Mas há uma coisa que acho fundamental: conversar, conversar e conversar, MUITO! Caso contrário acabam se afastando um do outro. Isso é muito fácil acontecer. Outra coisa que normalmente custa muito mas que é fundamental para que a coisa corra bem é pedir desculpa, admitir que errámos, que se calhar estávamos só num dia mau e descarregámos no outro... é muito comum isso acontecer, e normalmente acontece com as pessoas de quem mais gostamos, porque são as mais próximas e com quem temos maior confiança. O "desculpa" e o "obrigado" ainda são poderosos. Espero que as coisas se resolvam da melhor maneira. Um beijinho!

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  3. É exatamente como dizes...
    Cada relação é perfeita à sua maneira. As pessoas moldam-se com o tempo... Mas quando há amor e vontade de resolver as coisas tudo se resolve :) Eu também não me deito com nada por dizer, não conseguiria :)

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  4. Não podia concordar mais com o que escreveste e acho que é mesmo tudo normal em qualquer relação. E eu sou como tu, prefiro desgasta-me com os problemas e os desentendimentos mas acertar os ponteiros do que desgastar a relação com coisas mal resolvidas. Vale sempre tanto a pena.
    E é mesmo assim, enquanto juntos formos melhores que sozinhos, o Amor faz todo o sentido!

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  5. Quando há amor tudo se resolve. O importante é não desistir de conversar, de discutir, de falar. Eu digo que no dia em que não disser o que sim e que deixar de reclamar, é porque o amor acabou!
    Beijos e boa sorte

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Obrigada pelas tuas palavras!

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