Era uma sexta-feira que não tinha terminado muito bem.
Fomos ter com uns amigos e, em jeito de despedida, puseram-se a beber um pouco além da conta, misturaram licor com vinho verde e o G. acabou a tarde a vomitar-se (ou tentar), a sentir-se pessimamente e em casa, numa espécie de coma alcoólico induzido pela palermice inconsequente dos machos quando se metem nestas embrulhadas.
Eu arrastei-me para casa com ele, meti-o debaixo de água, um duche de água fria, roupa fresco e foi vê-lo dormir até o dia seguinte. Eu, numa sexta-feira à noite livre, pus-me em pesquisas na internet e dei com o anúncio de um apartamento para alugar que parecia mentira. Ainda assim, mandei email, como mandei para outros e não pensei mais no assunto.
No sábado (dia seguinte) de manhã, já tinha resposta ao email e um contacto telefónico para o qual ligámos e marcámos visita para antes do almoço. Lá fomos nós, confesso, sem qualquer esperança ou fé na coisa mas pelo preço e tipologia, sendo em Lisboa, não podíamos deixar de ir ver.
Mesmo já lá estando, perguntei desconfiada se era realmente um T4 (a quantidade de vezes que nos anúncios dizem que tem mais assoalhadas que a realidade) e pensei para mim: das duas uma - ou está em muito mau estado, ou tem um problema qualquer ou será minúsculo...alguma coisa terá de mal.
Fez ontem três semanas que visitámos pela primeira vez aquele T4 que tem realmente quatro quartos, duas casas de banho, muita arrumação, fica ainda em Lisboa e não é um balúrdio, portanto, ficámos rendidos e, inesperadamente, avançámos com o arrendamento, ainda no mesmo dia.
Inicialmente não sabíamos se tínhamos feito bem, o receio estava presente nos nossos dias, tínhamos pouco tempo, porque viajávamos em breve e a mudança teria de ser feita o quanto antes, sendo que ainda haviam obras a fazer-se na casa nova e o G. ainda estava a trabalhar... Mas quando lá voltámos a entrar a segunda vez ficámos mais seguros e descansados. Era uma mudança e tanto!
Não foram semanas fáceis...primeiro o trabalho que tivemos até que conseguíssemos ter reunida toda a documentação necessária para fazer o contrato, depois a demora até que o contrato estivesse pronto e assinado pelo proprietário (uma vez que só contactámos com um responsável pelos arrendamentos do senhorio e nunca com o próprio), a necessidade de apressar as coisas... Assinado o contrato, chaves na mão e foi necessário andar sempre a pressionar para que avançassem o mais depressa possível com a pintura e arranjos lá em casa, o adiar constante - procrastinação não faltou - ter de tratar de abrir contas de água, luz e gás, programar, ao mesmo tempo, o encerramento das do T1, resolver como faríamos a mudança das coisas maiores...enfim.
As últimas semanas foram feitas de muitas viagens para cima e para baixo, para a frente e para trás, a levar caixas e mais caixas, a empacotar, arrumar e desfazer tudo outra vez. Conseguimos que nos emprestassem uma carrinha grande e a ajuda de uns amigos do G. que carregaram os móveis e electrodomésticos com ele. Tudo isto tendo em conta não termos ainda luz (num dos dias), o G. estar a trabalhar e só conseguir estar em casa a partir das 19h e termos de descer três andares sem elevador e subir quatro outra vez.
Foram dias completamente desgastantes, com alguns percalços, com muita pressão e um sobrecarregar de obrigações e deveres. Pelo meio discutimos muitas vezes, perdemos a paciência, receámos, tivemos muito medo, partimos um espelho da carrinha que nos emprestaram e de uma ambulância (na qual batemos), tivemos de resolver isso e tirar tudo da antiga casa antes de viajar e deixar tudo minimamente orientado na nova porque só voltamos em Setembro e vamos logo trabalhar. Foram muito poucos horas dormidas, muitas noites prolongadas ao máximo e obrigámos o corpo à exaustão. A pintura terminou, finalmente ligaram, repararam e instalaram tudo o que era essencial e ficou a faltar apenas um jeito ao pavimento - prometido mas que acabou por não ser conseguido a tempo devido ao atraso.
Ainda tivemos de providenciar a estadia dos gatos lá em casa enquanto estamos fora e pedir a várias pessoas para lá irem, distribuir chaves e indicações, fazer as malas e voar Lisboa fora logo no dia 1.
No último dia do mês, depois de termos batido com a carrinha, o desespero e a pressão era tal que eu desatei num pranto descontrolado. O G. decidiu não ir trabalhar porque seria impossível eu conseguir fazer tudo o que era necessário sozinha, ainda por cima na tensão que estava... Aquela decisão acabou por revelar-se imprescindível. Estava mesmo a precisar daquele seu apoio.
E lá se conseguiu fazer tudo.
Aterrámos em minha casa na primeira hora de sábado e cá estaremos até Setembro. O plano é aproveitar para descansar tentando abstrair-se de todas as preocupações. Recarregar baterias e desfrutar. É um verdadeiro desafio, eu conheço-me!
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