Ontem fui, pela primeira vez, a tribunal com o meu patrono. E saí de lá orgulhosa dele. Quase parece pretensioso da minha parte mas não pude deixar de admirar o quão educado e inteligente foi, um verdadeiro senhor. Surpreendeu-me a postura que teve, a sua atitude e comportamento.
Não existem coincidências. O representante da contraparte era ninguém mais do que o meu antigo patrão, o chefe do escritório onde estive a "estagiar". Quando ouvi o nome dele na chamada, apertou-se-me o peito e quis fugir dali mas contive-me e relembrei ao meu patrono que era o dono do escritório onde tinha estado (eu tinha-lho dito inicialmente mas já não se lembrava).
Quando chegou (atrasado), o meu patrono foi apresentar-se e cumprimentá-lo. Eu acompanhei-o e quando me viu soltou um surpreso e inesperado "Olá!!!" sem ter tomado a iniciativa de me cumprimentar com um passou bem ou dois beijinhos, pelo que eu retribui o cumprimento verbal e mantive a distância.
Os advogados foram chamados ao gabinete do juiz antes de se dar início à audiência e o meu patrono levou-me com ele. Logo na conferência com o magistrado o meu ex-patrão mostrou as garras com uma atitude infantil e desnecessária. Quando de lá saímos em direcção à sala de audiências o meu patrono confessou-me "o seu ex-patrono está chateado..." ao que lhe respondi "ele não foi meu patrono. E ele é mesmo assim Dr....". "Mas se está chateado ainda vai ficar mais." rematou o meu patrono.
Em tribunal, só os advogados ficam sentados aos lados do juiz (ou à direita ou à esquerda) e de frente um para o outro. De um lado o defensor de uma versão da história, do outro, em frente, o defensor do outro lado da história. E é obrigatório usarem toga para isso.
Eu já tinha ido assistir a audiência em tribunal, acompanhando um dr., mas tinha ficado na plateia, para assistir ao julgamento. Quando entrámos na sala eu detive-me nesse mesmo local, enquanto o meu patrono se dirigia à secretária mas ele chamou-me para ficar ao seu lado, fez questão de me apontar o lugar e só depois se sentou.
Durante toda a audiência, o meu patrono mostrou-se muito seguro, tranquilo e transmitiu-mo. Em vários momentos deu comigo a olhá-lo com um ar provavelmente um pouco "assustado" e retribuiu-me uma espécie de "calma, está tudo bem" sorrindo.
Em certos momentos, o meu ex-patrão não deixou de se mostrar imaturo e fez questão de incomodar o meu patrono com pequenices infantis e desnecessárias. Também demonstrou não ter estudado bem o assunto e várias vezes "atacou" sem fundamento.
Mostrou ser muito inteligente, teve um discurso e uma atitude coerentes e organizados (ao contrário do outro) e apesar das condicionantes (nomeadamente a postura e receptividade do juiz, bem como o facto de não se ter inteirado do processo) não lhe terem permitido fazer muito, conseguiu demonstrar a sua posição, explicando-a consistentemente.
No final, levantou-se e cumprimentou o juiz e depois o meu ex-patrão que se preocupou mais em lembrar ao juiz que se conheciam, tinham sido colegas de turma e sabe-se lá mais o quê mas o tiro saiu-lhe pela culatra: "Ah já estou a ver - disse o juiz - você era aquele baixinho..." ao que ele respondeu "Pois, a idade não me deu mais altura". "Sim, mas mais gordinho" disse o juiz. Ahahaha. Achei o máximo! O meu antigo patrão quando abandonou a sala despediu-se com um "Bom dia. Adeus VerdezOlhos!" ao que eu respondi com "Bom dia Dr.".
Qual era a probabilidade de ter encontrado aquela pessoa em julgamento, logo da primeira vez que acompanhei o meu patrono? Ele nem é daquela área, o meu patrono não mora nem trabalha na mesma cidade, embora não seja muito distante. Ele trabalha essencialmente com grandes entidades, por isso até é normal representá-las em todo o país mas é preciso ter pontaria para ser logo da primeira vez que vou com o meu patrono (eles nunca se tinham cruzado, não se conheciam). Por outro lado, não tenho nada a "temer" e até foi bom ter sido logo agora porque assim não fico à espera do dia em que venha a acontecer, sem saber o que esperar. E a minha primeira vez em tribunal será para sempre recordada desta forma tão peculiar!
Agora só posso desejar ser capaz e estar à altura de um dia deixar o meu patrono orgulhoso de mim - se não tanto como eu dele, nem que seja um terço, já estará mais do que bom para me deixar feliz. E ontem tive de agradecer ter entrado na minha vida alguém que respeita e tem consideração por todas as pessoas, independentemente do que podem alcançar através delas ou do "nível" de vida em que estão, como a maior parte dos profissionais da minha área, infelizmente, fazem.
Ontem, deixei aquele tribunal com uma esperança e uma alegria no peito renovadas. Com o coração cheio de admiração e (quase atrevimento) de orgulho! E lembrei-me que há já algum tempo que não sentia nada assim...
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