terça-feira, 27 de outubro de 2015

Meio século do meu pai!


Hoje o meu pai completa meio século de vida!
Mais uma vez não posso estar presente como em tantos outros momentos importantes da vida daqueles de quem mais gosto. Infelizmente a distância física não permite mas o meu coração está com ele neste dia especial.

Mal dá para acreditar que o meu pai tem a idade que tem. É um homem com uma história e percurso incríveis, que me deixa muito honrada em ser sua filha e poder aprender com ele. Tem muita coisa para contar e transmitir, sempre foi um lutador nato, teve muita força para enfrentar as adversidades e sempre persistiu para alcançar os seus objectivos.

Quando era menina (num tempo tão longínquo que quase já não recordo) via-o como um super-herói e não posso deixar de admitir que sempre fui a "menina do papá". Durante uma temporada nutri um misto de sentimentos em relação a ele, com muita coisa incerta na minha cabeça quanto às suas atitudes e comportamentos, quanto à sua maneira de pensar e viver. Houve fases em que o odiei e até (Deus me perdoe!) cheguei a desejar que desaparecesse das nossas vidas porque o julguei o responsável pelo que de mal acontecia na nossa família. Nessa altura não reconhecia nele aquele pai que a menina que fui teimava em recordar no fundo do meu coração. Quando olho para trás vejo que durante anos houve um vazio de pai nas nossas vidas e isso não é fácil de compreender. A ausência mói e fere corações e a distância emocional é a mais perigosa. O meu pai, de tão focado que é, durante anos trabalhou noite e dia e mal o víamos. Isso fez com que a nossa relação e proximidade fosse mais fria e distante do que se possa imaginar. Só hoje consigo compreender que o fez com o objectivo de nos poder dar sempre mais e melhor, que a educação que teve não o prepararam para ser diferente disso e que só se preocupou em trabalhar, deixando-se absorver sem consciência do que pôs em causa - a família - que, ironicamente, era precisamente aquilo por que lutava. 

O meu pai aprendeu que há coisas mais importantes do que aquilo em que se focou durante anos, aprendeu que as dificuldades por que passou na sua mocidade e aquilo que os seus pais lhe ensinaram a fazer, que era lutar para ser melhor, não podem fazê-lo esquecer que há que viver. Porque não é só "ter" que nos faz viver melhor. Porque o viver é o mais importante. Eu imagino como deve ter sido duro para ele ter sido forçado a mudar por imposição das circunstâncias da vida e como para ele deve ter sido difícil gerir e aceitar que durante anos assim foi. Hoje ele sabe-o e admite-o mas não é isso que o faz ficar a lamentar-se. Isso só lhe deu força para mudar e tentar sempre seguir em frente, da melhor forma possível. E isto só pode ser admirável.

Hoje as coisas mudaram, a vida deu muitas voltas e eu não podia desejar, em todo o universo, um pai diferente. Às vezes não sei como é possível que ele seja capaz de mover mundos para conseguir aquilo que é preciso, para nos ajudar como pode, da melhor maneira que sabe. Às vezes não sei como ele tem tanta força, tanta determinação, como é tão lutador depois de tudo aquilo por que já passou. Oxalá eu tenha herdado um quarto da sua força e já serei uma mulher invencível.


Hoje, depois das voltas todas que a vida deu, das lições que nos vai ensinando, por entre os altos e baixos de todos os seres humanos, posso dizer que nunca tive tanta certeza de que aquela menina de três ou quatro anos que um dia fui é que sabia a verdade: o meu pai é um super-herói. E nós tivemos muita sorte em tê-lo nas nossas vidas. Porque mesmo ele não sendo perfeito, mesmo com todos os seus defeitos, com o característico feitio difícil e teimosia, não podia ser melhor pai para nós. Admira-mo-lo e orgulha-mo-nos muito de como conseguiu dar a volta por cima, de como aprendeu a adaptar-se, do quanto evoluiu e do que já conquistou. Obrigada por tudo papá! Feliz aniversário e que conte muitos e bons anos felizes e que nós herdemos também a genética de nos conservarmos tão frescas e fortes aos cinquenta.

1 comentário:

Obrigada pelas tuas palavras!

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